Hoje e ontem. O tradicional Almanaque Renascim é apenas mais um na história dos almanaques farmacêuticos, que nunca deixaram o imaginário popular (André Bonomini)
Tradicionais e nostálgicos, os almanaques farmacêuticos passaram de antiquadas publicações ao status de relíquias altamente valiosas e colecionáveis, uma verdadeira mina de história e costumes resumida em algumas poucas páginas. Parado em casa na manhã desta terça-feira passada (05/01), percebi na mesa da cozinha um pedaço dessa história que nunca morre. Era a 71ª edição do veterano Almanaque Renascim-Sadol, publicado anualmente pelo Laboratório Catarinense desde a fundação da empresa, em 1945, na sempre bela cidade dos príncipes, Joinville.
O Renascim é só uma pequena parte de uma história longa destas publicações que atravessam décadas e nunca deixam de estar nas farmácias brasileiras. Há quem não as encontre mais pelas drogarias de confiança, mas alguns afortunados como eu e outros tantos ainda desviam os olhos e garantem sabiamente um exemplar, distribuído gratuitamente.
O pioneiro foi o Pharol da Medicina, publicação elaborada com o patrocínio da Drogaria Granado, do Rio de Janeiro (sempre o Rio), em 1887. A partir dele, as publicações que se seguiram copiavam os moldes do pioneiro. O Almanaque trata-se de uma publicação anual que traz dicas para o lar, datas boas para pesca e agricultura, horoscopo, curiosidades, anedotas, adivinhações, tudo para cada mês do ano. Era um verdadeiro guia de bolso, da mãe em dúvida ao aluno curioso, do agricultor ao pescador.
Esta e outras tantas publicações, com o passar dos tempos, deixaram de ser simples peças antiquadas de um passado distante e passaram a ser exemplares ricos em história e simbolismo. Alguns exemplares, que no tempo de glória eram distribuídos de graça, são disputados atualmente a preços de ouro por colecionadores e sebos, por valores que variam entre R$ 15 a R$ 100, dependendo do valor histórico e se é um pacote com determinado número de almanaques.
De apenas lembranças do passado, os antigos almanaques viraram peças de colecionador, com preços que variam de R$ 15 a R$ 30 a unidade ou até R$ 100 se comprados em lotes como este da imagem (Mercado Livre)
Apesar do desaparecimento do Almanaque Fontoura, outros persistiram e seguem na trilha até os dias atuais, como é o caso do Renascim. Destaco especialmente nesta edição uma preciosidade que tenho ainda hoje guardada, até como recordação de meu saudoso avô, Godofredo Heiden. É um pequeno exemplar do Renascim de 1979, que além do conteúdo padrão de todo Almanaque, traz uma curiosa história em quadrinhos em que um barbeiro contador de histórias (Zé Navalha) e o filho curioso (Brasílio) viajam o Brasil atrás de histórias e pontos turísticos conhecidos.
O andamento do conto é meio forçado em alguns momentos, especialmente na hora de inserir propaganda (vale lembrar, o Renascim é um informativo publicitário do Laboratório Catarinense), mas é uma curiosa peça de fim de anos 70 que vale a pena ser lida e contemplada, especialmente pela capa que traz os vários tipos brasileiros em confraternização. Dentro, além dos quadrinhos e dicas, um desfile de marcas tradicionais do Laboratório, algumas até hoje na ativa, como Balsamo Branco (Boettger), o próprio Renascim, Melagrião, Sadol, Alicura, Figatil, Camomila Rauliveira (Camomila Catarinense), Água Inglesa, Catuama e outros tantos.
A edição de 2015 do Renascim já está disponível nas farmácias de confiança no Centro e nos bairros. Quem não garantiu a sua ainda tem tempo. E guarde-a com carinho, nunca se sabe quando você, no futuro, terá uma peça história de valor inestimável e que pode até lhe valer alguns bons trocados.
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André Bonomini